PERSONALIDADES DO ESPORTE

quinta-feira, 18 de junho de 2009

ENTREVISTA COM "MIRANDINHA"

* SELEÇÃO DO BRASIL DE 1987.

* ENTREVISTA COM "MIRANDINHA"

Francisco Ernani Lima da Silva, o MIRANDINHA, nasceu em Chaval, interior cearense, mas não demorou para ganhar fama internacional graças ao futebol. Pelo contrário. Com apenas 17 anos, Miranda chegou ao Ferroviário, depois de ter sido dispensado em peneiradas de Fortaleza e Ceará. Dois anos depois, já estava na Ponte Preta e aí não parou mais, passando por clubes como Náutico, Botafogo, Palmeiras de São João da Boa Vista, Portuguesa, Santos, Cruzeiro até chegar ao Palmeiras, em 1986.

Com gols e belas atuações, Mirandinha chamou a atenção dos ingleses, que nunca haviam contratado jogador brasileiro para atuar no país. Em maio de 1987, o atacante foi convocado pelo técnico Carlos Alberto Silva para a Seleção Brasileira principal, que faria quatro amistosos na Europa. Contra a Escócia e Irlanda, Mirandinha foi escolhido o melhor jogador em campo e diante da Inglaterra, no estádio de Wembley, ele marcou o gol do Brasil no empate em 1 a 1.

A partir dali, a negociação estava selada e Mirandinha teve que pedir dispensa da Seleção que disputaria os Jogos Panamericanos de Indianápolis – os seus companheiros de ataque eram Careca, Romário e Evair.

Depois do sucesso no Newcastle, onde até hoje é reverenciado, Mirandinha teve uma passagem pelo Belenenses, de Portugal, até chegar ao Corinthians. No clube paulista, mesmo marcando gols, inclusive na Libertadores, acabou não sendo utilizado com frequência pelo técnico Nelsinho Batista.

Enfim, chega a parte que realmente interessa ao torcedor do Fortaleza. 1991, o Leão estava na disputa do terceiro turno do Campeonato Cearense. O maior rival tinha estremecido o Estado com a contratação do atacante Cláudio Adão com o objetivo de conquistar o Tricampeonato. O Fortaleza, através do presidente Péricles Mulatinho e do diretor de futebol, Ney Rebouças, ambos já falecidos, fez uma grande investida e acertou a vinda de Mirandinha para o Pici.* FORTALEZA ESPORTE CLUBE "CAMPEÃO" DE 1991.

O resto, todo mundo já sabe. Com belas atuações e golaços em partidas decisivas, Mirandinha ajudou o Fortaleza a desbancar o rival e conquistar o título estadual de 1991. Entre os clássicos daquele ano, uma partida histórica que terminou com a vitória do Fortaleza por 4 a 2 após estar perdendo por 2 a 0. Miranda fez dois. O título de 91 é considerado pelo atacante um dos mais importantes da sua carreira. “Foi meu primeiro título estadual e fiz jogos emocionantes e memoráveis”, conta.

Nesta entrevista, ele conta detalhes dos jogos decisivos, fala da sua carreira e do retorno ao Tricolor de Aço como auxiliar-técnico e técnico do time principal, entre outros assuntos.

Site Oficial: Fale do seu início de carreira.

Mirandinha: Minha chegada ao Ferroviário foi cercada de muita ansiedade pelo fato de eu já ter sido dispensado do Fortaleza e do Ceará antes. Foi justamente um momento de decisão no início da minha carreira e o Ferroviário foi importante pelo fato de ter me dado a oportunidade de começar e começar como campeão.

Site: Alguém te levou pra lá? Algum olheiro? Ou você foi fazer só um teste?

Mirandinha: Não, eu fui sozinho. Eu tinha acabado de sair do Fortaleza, depois de ter apenas começado, foi apenas um jogo e onde eu tive a infelicidade de jogar esse jogo com um braço quebrado. Eu tinha tido uma fratura na sexta-feira santa, nunca esqueci este detalhe, e aí no domingo eu joguei pela escolinha do Fortaleza, já era o Jurandir Branco que cuidava naquela oportunidade. Marcou muito porque tinha o fato do time principal do Fortaleza estar concentrado para decidir o Campeonato Cearense de 1977, e com isso o pessoal do time profissional me deu um apoio muito grande, porque logo depois do jogo eu tive que ir pro hospital para engessar o braço. Foi um momento difícil porque eu sabia que podia ir muito longe no Fortaleza, mas acabou que fui dispensado quando voltei, depois de ter tirado o gesso, depois de ter me recuperado. No Ferroviário foi o recomeço, com aquela sensação de ter que dar certo de qualquer maneira, porque eu tinha o futebol como uma tábua de salvação. Eu era de família humilde, na época meu pai ainda ajudava de alguma maneira, mas se o futebol não tivesse chegado na minha vida naquela oportunidade eu não sei qual seria o desfecho da minha vida.

Site: Você jogou em vários clubes importantes no Brasil, Seleção, na Inglaterra... Qual foi o momento mais importante da sua carreira?

Mirandinha: Tive dois grandes momentos na minha carreira. O primeiro deles, por incrível que pareça, foi quando eu voltei do Botafogo em 1983. Depois de dois anos e meio, fui mandado praticamente embora numa troca meia sem cabimento, na época, do Botafogo com o Náutico. Muita gente achava que minha ida para o Náutico estaria começando o retorno pra minha terra natal. E isso me encheu de estímulo, me enchi de vontade de naquela oportunidade provar que era um bom jogador. E no Náutico eu acabei me tornando um grande artilheiro do futebol brasileiro em 1983, marcando gols em todas as grandes equipes do futebol brasileiro, tanto é que o Náutico esteve entre os oitos melhores naquela oportunidade. Dali eu fui pra Portuguesa, meu retorno pra São Paulo que foi realmente aquilo que eu precisava. O Náutico foi no início da minha carreira, o grande momento da minha carreira. Em seguida, minha chegada no Palmeiras em 1986. Em termos de Brasil, o Palmeiras foi realmente o grande clube da minha carreira profissional. Logicamente que eu pensava em chegar mais além e tenho certeza que poderia ter chegado se não fosse eu ter tido minha carreira toda conduzida por mim mesmo. Não tinha empresário, agente, até porque isso na época também não era muito comum. Na Inglaterra, aí sim, foi realmente o ápice da minha carreira. Um cearense abrindo as portas do mercado inglês pros futebolistas brasileiros, pra mim foi realmente algo de muita qualidade até mesmo em termos de vida, cultura, conhecimento de uma língua que eu jamais eu iria conseguir se não fosse minha ida pro Newcastle.

Site: Como foi essa passagem na Europa, como é ser o primeiro brasileiro a jogar na Inglaterra, como é que você foi recepcionado lá, como que surgiu o interesse?
* MIRANDINHA no Newcastle da Inglaterra.

Mirandinha: O interesse da minha contratação pelo Newcastle foi justamente no ano de 1986, quando eu estava no Palmeiras fazendo gols em quase todos os jogos. Tinha um torcedor do Palmeiras que era muito meu amigo, um garoto chamado Humberto Silva, o pai dele era um conselheiro do Palmeiras, e esse rapaz morou um período na Inglaterra fazendo intercâmbio, e ele conheceu na época um pessoa que era muito ligada ao Malcolm Mcdonald, que foi um dos grandes astros do futebol Inglês e jogou pelo Newcastle muitos anos. O Humberto, involuntariamente, começou a mandar material com fitas de jogos, recortes de jornais, todo aquele material que ele ia recrutando na imprensa, ele enviava pra lá. O Malcolm, que tinha acesso ao Newcastle, foi se interessando até demonstrar interesse real. Quando o Newcastle vendeu o Peter Beeler, que era o grande astro do time, para o Liverpool e logo em seguida eu fui convocado para a Seleção Brasileira principal. Disputei a Copa Stanley House no Reino Unido e depois jogamos também na Finlândia. Nos dois jogos na Stanley House eu fui escolhido como o melhor jogador em campo, sem contar que eu ainda fiz o gol contra a Inglaterra no 1 a 1 em Wembley e isso selou praticamente a minha contratação. Quando eu voltei da excursão nós tivemos a Copa América na Argentina de 87 eu estava no grupo com Careca, Romário, Evair. Era uma seleção que tinha grandes atacantes e eu acabei não jogando naquela oportunidade. Só que o Newcastle confirmou a minha contratação e foi uma surpresa muito grande porque ninguém sabia, a imprensa brasileira inteira não sabia, apenas eu e o Humberto Silva sabíamos dessa negociação. Eu fui convocado para os jogos Panamericanos de Indianápolis e quando o Newcastle bateu o martelo com o Palmeiras eu tive que pedir dispensa da seleção por dois dias pra ir à Inglaterra fazer os exames médicos e voltar. Eu queria disputar o Panamericano. Quando eu fui, eu saí num dia e voltei no outro. Mas, eu tive que pedir dispensa da Seleção porque o Newcastle pediu minha apresentação o mais rápido possível. No Newcastle não tem nem como descrever a felicidade e a satisfação com que eu fui recebido, foi assim um momento muito marcante da minha carreira, porque lá eu recebi o carinho de um povo que não tinha a ver comigo e que me tratou como um verdadeiro superstar. No Newcastle eu não podia ir a lugar nenhum, eu tinha que estar sempre acompanhado dos seguranças do clube, porque eu cheguei e já fui fazendo gol. Fiz um gol no Manchester, fiz gol no Middlesburgue, gol no Everton e isso foi assim uma coisa muito rápida, muito repentina. O Newcastle foi realmente em termos de satisfação pessoal um grande momento da minha carreira.

Site: Você jogou quatro jogos na seleção principal. Queria que você falasse como foi jogar na seleção, marca esse gol em Wembley que você falou que foi um momento histórico...

Mirandinha: A Eu joguei contra a Escócia, Inglaterra, Irlanda e no último contra a Finlândia eu saí machucado e entrou o baixinho Romário e não saiu mais. Foi um momento que marcou. A Seleção foi muito importante na minha carreira, eu acredito que naquele período da década de oitenta eu tive a felicidade de conquistar todos os títulos que eu disputei com a Seleção. Fui Tricampeão em Toulon em 1983, ainda jogando pelo Náutico, ganhamos o titulo em cima da Argentina. Em 1984, de novo fomos campeões pré-olímpicos no Equador, onde eu lembro que contra o Paraguai eu fiz dois gols. Em 1987 fomos campeões pré-olímpicos novamente, na Bolívia, onde eu fiz o gol do titulo contra a Bolívia em La Paz. E infelizmente eu não joguei nenhum das duas olimpíadas em virtude de problemas com normas que a CBF implantou na época e a segunda porque o Newcastle já não tinha interesse em me liberar, menos pra jogos de eliminatória e Copa do Mundo, que tinha uma cláusula no contrato que dizia isso. Mas na Seleção, graças a Deus, eu fui vitorioso e tive grandes momentos e só não fui por completo porque não disputei uma Copa do Mundo.

Site: Nós estamos aqui pra falar do histórico título cearense de 1991, que a torcida do Fortaleza não esquece e é considerado como um dos maiores títulos da história do Fortaleza. Você estava no Corinthians quando veio pra Fortaleza. Explica como foi essa negociação.

Mirandinha: Eu estava no Corinthians, em 1991, depois de ter retornado do Belenenses, que não pagou meu empréstimo ao Palmeiras. Aí eu voltei pro Corinthians. O Fortaleza, através do nosso saudoso e querido Dr. Ney Rebouças ajudando o presidente da época, também já falecido, Péricles Mulatinho e o Levi Lafetá também envolvido nessa administração. Eu tava sem ambiente no Corinthians, não tive oportunidade de jogar, apesar de ter feito dois gols na Copa Libertadores, jogando no Uruguai contra o Bela Vista e contra o Nacional, mas infelizmente o treinador da época, o Nelsinho Batista, resolveu não me colocar nos jogos do Campeonato Paulista e acabou me deixando disponível pra negociar. O Fortaleza estava passando por um momento difícil, o Ceará parece que já tinha ganho um turno e o Fortaleza também, estava entrando no terceiro turno e precisava de um atacante. O Ceará tinha trazido o Cláudio Adão e naquela oportunidade o Fortaleza fez uma investida muito grande em cima da minha contratação. Lembro que na época eu não poderia jogar, sequer colocar a camisa do Fortaleza enquanto o Corinthians não recebesse os cinco milhões de cruzeiros, valor do meu empréstimo. Mas eu driblei tudo isso, por duas razões: primeiro porque eu não tinha tido oportunidade de jogar na minha terra pelo Fortaleza que sempre foi meu time de coração. Naquela oportunidade, eu até falei pro Levi Lafetá pra organizar um amistoso que eu jogava, pra arrecadar o que fosse possível pra pagar o Corinthians. Eu não esqueço isso, eles fizeram o amistoso e foi contra o Leão XIII no Presidente Vargas. Fizemos um jogo treino, o Fortaleza arrecadou uma boa quantia e me apresentaram no Castelão num domingo de Fortaleza e Ferroviário. O futebol cearense estava numa decadência muito grande, fazia muito tempo que não tinha publico, era sempre 1.500, 2.000, 3.000 pessoas nos estádios e naquele jogo contra o Ferroviário, da minha apresentação, já foram quase 15 mil pessoas em campo. Daí pra frente foram só estádios cheios e a satisfação pessoal de ter conquistado pelo Fortaleza o meu primeiro titulo estadual a nível profissional. Já tinha ganho outros campeonatos, mas nenhum estadual.

Site: Hoje o Fortaleza tem uma estrutura muito boa, mas fala como era o Fortaleza quando você chegou. Como era o Pici, como era a sede? Você já tinha jogado no Palmeiras, no Corinthians, na Europa.

Mirandinha: Foi um choque muito grande, porque naquela oportunidade o Fortaleza não tinha nada do que tem hoje. Era um clube completamente desestruturado, a parte administrativa era apenas o Presidente e alguns diretores e o Manoelzinho lá fazendo tudo na parte de massagem. O Dr. Vanor Cruz dando uma colaboração muito grande. Mas tinha uma coisa boa, tinha a alegria daquelas pessoas que trabalhavam no Fortaleza, que passavam seus dias, como no caso da Toinha, que naquela época já era uma guerreira. Nós tínhamos o falecido Manduca que cuidava do campo e eu acredito que esse carinho e essa afetividade que eu tive com essas pessoas fez com que eu driblasse todos aqueles problemas, todas aquelas situações, por exemplo, de alojamentos e vestiários mal cuidados. O campo pra gente não tinha a mínima condição de treinamento porque não tinha um pé de grama sequer, era só aquele capim nas laterais e o meio ali tudo arreia. A gente fazia daquilo ali nosso local de trabalho e eu consegui juntamente com alguns profissionais da época motivar o grupo e conseguimos superar todas essas dificuldades. Nós conseguimos o objetivo maior que foi conquistar o titulo e tirar o Tricampeonato do Ceará.

Site: Queria que você falasse agora em particular de dois jogos importante de 1991. A virada histórica sobre o Ceará, por 4 a 2, e o empate no jogo do titulo.

Mirandinha: O jogo da virada foi um dos jogos memoráveis que eu participei em toda minha carreira. Era semifinal do quarto turno e a gente já havia ganho dois turnos, contra um do Ceará. Nós saímos perdendo por 2 a 0. Naquela época houve uma polêmica com relação a arbitragem, que não iriam aceitar árbitros de fora, e de uma hora para outra eles anunciaram o José Roberto Wright para apitar aquele jogo. No final do jogo, antes da prorrogação, o Wright chegou, segundo o Sílvio, que jogava comigo na frente, e falou pro Cláudio Adão para ele cair na área que ele ia dá o pênalti. Acontece que no término da partida, eu corri lá no quarto árbitro e chamei toda a imprensa e falei que “não podia acontecer o que tava acontecendo, que o Wright tinha mandado o Adão cair na área”, e naquela oportunidade tinha um repórter que cobria o Ceará que foi lá no vestiário do árbitro e falou que eu tinha tido essa manifestação após o término da partida. O Wright falou se eu confirmasse o que tinha passado, ele iria me expulsar e eu fui avisado disso por um Tricolor, que acompanhou a conversa. No inicio da prorrogação, ele me chamou no centro do campo e perguntou se era verdade. Como eu conhecia bem, falei “Pô Wright, tu é louco! Tu acha que eu iria fazer uma coisas dessas contigo, te conhecendo com eu conheço?”. Aí ele falou, “então tá bom, vamos pro jogo”. O resultado é que nos fizemos dois gols ainda, eu fiz um e o Valdir fez outro, ganhamos o jogo por 4 a 2 e tiramos a oportunidade do Ceará de seguir em frente no quarto turno.

Site: Aí veio o Icasa na decisão do quarto turno.

Mirandinha: Exato. O Icasa tava com um time muito bom e muito forte. Nós perdemos o primeiro jogo em Juazeiro, eu não joguei porque estava suspenso. No jogo da volta, o Icasa jogava pelo empate e aos 44 minutos do segundo tempo eu fiz um gol de fora da área. A bola só passava ali mesmo, entre a mão do goleiro e a trave direita. Aí ganhamos o quarto turno nos pênaltis e fomos com uma imensa vantagem pra decisão com o Ceará, porque eles só haviam vencido um turno e a gente ganhou três.

Site: E como foram os três jogos finais?

Mirandinha: Pela vantagem que conquistamos no campeonato, precisávamos apenas de uma vitória ou dois empates nas três partidas. E foi o que aconteceu. Perdemos o primeiro jogo, mas empatamos os dois seguintes e ficamos com o título. Foram jogos difíceis, mas emocionantes e memoráveis.

Site: No jogo do título, você fez um golaço, parecido até com o gol contra o Icasa, no quarto turno.

Mirandinha: É verdade, foram parecidos com a diferença que um foi no chão e o outro foi por cima, mas praticamente do mesmo local, na mesma trave, do lado da torcida do Fortaleza.

Site: Quando você fez 1 a 0 imaginou que o título estava garantido? Aquele time unia juventude e muita experiência.

Mirandinha: Eu acreditei sim. O Ceará já demonstrava certa fragilidade naquele momento do jogo e o Fortaleza tinha um time poderoso, era um time forte, apesar de contar com alguns jogadores jovens, como era o caso do China que ganhou a posição de volante, e tinha o Sílvio Cearense que era um garoto também, o próprio Eliézer. Era um time jovem, mas que contava com a experiência do Marquinhos Capivara, o Argeu lá atrás, a minha na frente. Era uma mescla muito importante de experiência com juventude e sem contar com a qualidade desses jogadores que eram jovens talentos que realmente já despontavam para o futebol nacional.

Site: Como é voltar a trabalhar no Fortaleza depois de tantos anos, inicialmente com auxiliar-técnico e agora tendo a oportunidade comandar a equipe?

Mirandinha: É uma satisfação muito grande. Eu tenho uma gratidão muito grande pelo Fortaleza, pela maneira que fui recebido aqui em 91 e acabei consolidando não apenas uma amizade com todos aqueles que fazem o Fortaleza até hoje, mas também pelo fato de ter conquistado títulos e ter feito com que essa coisa de jogador e até mesmo de fã do Fortaleza ficasse bem concretizado.

Site: Pouca gente lembra, mas você jogou no Fortaleza novamente em 1995.

Mirandinha: Joguei. Na época o Fortaleza tava muito pior que 91, em grandes dificuldades, eu trouxe alguns jogadores do interior de São Paulo e joguei naquele ano também, no final do Estadual e na Série C, onde eu joguei algumas vezes. Em 96, eu já retornei pra cá como gerente de futebol do Ferroviário. Depois, ainda voltei a jogar pelo Ferroviário e em seguida iniciei a minha carreira como técnico.

Site: Em 91, como você mesmo falou, o Fortaleza tinha um time com jovens talentos aliado a experiência. Este ano, o Fortaleza montou um time bem jovem. Como é equilibrar isso, existe uma fórmula ideal?

Mirandinha: Eu tive três experiências como técnico que marcaram a minha carreira. Na Arábia Saudita, em 1997, quando eu assumi um time que era praticamente um time de veteranos e nos primeiros seis meses depois que eu cheguei lá tive muitas dificuldades, porque o árabe além de ser preguiçoso, ele cria muitas dificuldades para o treinador trabalhar, se fecham no mundo deles e é complicado. Eu tive a felicidade de pegar um momento no clube onde o presidente me deu toda autonomia e eu montei um segundo time de garotos na primeira temporada. Na segunda parte do campeonato, eu lancei os garotos, inclusive nessa oportunidade o Marco Manso, meia cearense, estava comigo na Arábia. E o time foi muito bem, perdemos apenas um jogo fora de casa e ganhamos todos os outros. No segundo ano, eu mantive as principais peças do ano anterior, aqueles jogadores veteranos que gostavam de trabalhar e ajudavam na formação dos garotos e fomos campeões com três rodadas de antecedência. Quando eu voltei pro futebol amazonense, eu tive a mesma experiência, no Rio Negro em 2000. Fiz a mesma coisa, agreguei jogadores veteranos com um time de garotos e também fomos campeões. E a terceira experiência foi aqui no Aracati, que nos últimos três anos tinha contado sempre com jogadores experientes, veteranos e não ia a lugar nenhum, não chegava a lugar nenhum. A gente conseguiu, com um time de garotos, a maioria da base do Fortaleza, fazer um grande campeonato comigo lá no Aracati, e nós fomos campeões dentro de uma situação complicada. Eu não vejo futebol de outra maneira, pra mim futebol é muito claro e prático de ser conduzido. Você tem que ter bons jogadores veteranos no caso com idade mais avançada, mas aquele jogador que realmente puxe fila nos treinos, que incentive os garotos, que não fiquem puxando os garotos para baixo pra seguir uma outra linha de raciocínio. Agregar isso com jogadores jovens de qualidade e com personalidade para jogar, porque muitas vezes o garoto tem muito talento, mas não tem personalidade para jogar, chega no campo e se abate por várias razões. Eu vejo futebol por aí, hoje o futebol é tão nivelado que aquele clube que monta uma estrutura sólida e que faz um trabalho onde o jovem ganhe oportunidade e que ao mesmo tempo ele possa se sentir amparado, com certeza os resultados sempre acontecem de maneira favorável.

Site: Você tinha o apelido de “Fominha”, não gostava de tocar muito a bola... Teve alguma chateação no futebol por causa disso?

Mirandinha: Não. Eu me chateei uma única vez com meu amigo e camarada Milton Neves, justamente no retorno da seleção da excursão à Europa, onde eu fui escolhido por toda imprensa européia nos dois jogos contra a Inglaterra e a Escócia como o melhor em campo e tinha nesse grupo de celebridades que votaram em mim nada mais nada menos que Michel Platini, Beckenbauer, Maradona, só tinha monstro sagrado do futebol mundial vendo os jogos. Quando nós chegamos em São Paulo, o Milton fazia parte ainda da equipe da Jovem Pan e estava no aeroporto esperando a delegação. Ele chegou pra mim, e primeiro ele me jogou lá em cima falando que eu tinha ido muito bem, que tinha sido escolhido o melhor em campo, mas no final ele falou assim “Mas você continua fominha não é?”. Aí naquele momento eu tive uma atitude que depois eu pedi desculpa, mas eu simplesmente não respondi a pergunta dele e saí andando e deixei ele falando sozinho. Naquele momento, ficou uma coisa acirrada, mas eu fiz isso e foi realmente o único momento que eu me senti assim agredido. As pessoas confundiam que eu era fominha, que eu era egoísta, com a minha determinação para definir as jogadas. Hoje como treinador quando eu vejo o meu atacante na cara do goleiro e ele toca a bola pro lado, aqui me contraria. Eu quero que meus atacantes definam as jogadas e não que tirem de si a responsabilidade e toquem para o companheiro.

Site: O Bambam tem o estilo parecido com o seu?

Mirandinha: Ele tem um pouco da minha característica. Ele é impetuoso, não se esconde do jogo, busca o gol, mas precisa trabalhar mais a definição dele, no chute. Ele busca o ângulo e acaba errando. E o atacante tem que acertar o gol. O Bambam é jovem, é talentoso, e vai evoluir. Ele tem velocidade, explosão e um ótimo biótipo. Ele me lembra o Luizão iniciando no Guarani. Assisti muitos jogos do Guarani naquela época e eu sempre acho os dois parecidos. O Bambam às vezes é meio desengonçado, mas tem muito potencial pra ser desenvolvido.

Site: Deixe uma mensagem pra torcida do Leão.
Mirandinha: A torcida pode continuar sonhando com o Tricampeonato. Não falo isso como treinador, mas o Fortaleza tem uma camisa forte, histórica. A Diretoria aposta no futuro dos jovens talentos e está trabalhando com seriedade. Temos uma estrutura muito boa de trabalho, que não deixa a desejar a outro clube. Mas o principal é contar com a força da torcida. Vamos buscar fazer um grande segundo turno e uma boa participação na Copa do Brasil.

* Site: FEC

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