PERSONALIDADES DO ESPORTE

domingo, 12 de dezembro de 2010

RIVALDO, JOGADOR E PRESIDENTE!!!

Rivaldo: "Com marketing, seria o melhor do mundo três ou quatro vezes".
- Rivaldo dispara: "Poderia ter sido quatro vezes melhor do mundo".
- Em entrevista exclusiva, presidente e jogador do Mogi Mirim fala sobre sua carreira.
Rivaldo (Foto) gostaria de ter saído antes do Brasil para a Europa.

Campeão do Mundo, melhor jogador eleito pela Fifa, título brasileiro, espanhol, grego e até do Uzbequistão.
Todos estes troféus o meio de campo Rivaldo, de 38 anos, colecionou até aqui em sua carreira.

Em quase 20 anos correndo atrás da bola, o pernambucano da cidade de Paulista também ostentou uma timidez ímpar, capaz de sempre afastá-lo das câmeras e dos principais holofotes. E nada tira da cabeça de Rivaldo que ele poderia ter chegado mais longe, caso tivesse o marketing pessoal de outros concorrentes.

- Se eu tivesse saído mais jovem para a Europa e tivesse alguém me orientando, dizendo onde ir, onde dar entrevista, que marca usar, tenho certeza de que eu poderia ter sido o melhor do mundo três ou quatro vezes.

Aos poucos, ele está perdendo sua timidez.
Ou melhor, está permitindo que outras pessoas conheçam suas opiniões, seja em 140 caracteres, nos seus "posts" no Twitter, seja nas entrevistas em Mogi, como esta que o LANCENET! fez com o camisa 10, pentacampeão há oito anos no Japão.

No bate-papo de quase uma hora, Rivaldo deu suas opiniões como jogador e como presidente do Mogi Mirim, dupla função que ele assumiu até o fim do Paulistão-2011. Falou sobre Palmeiras, discordou de Felipão e garantiu que jogaria até no Barcelona de hoje, com Messi, Iniesta e cia.

Veja nas próximas linhas...

LANCE: Rivaldo, você está no twitter, defendeu um candidato a presidente durante as eleições e tem dado opiniões firmes sobre diversos assuntos. É um novo 'Rivaldo'?

RIVALDO:
Sou tímido, mas quando comecei minha carreira eu era muito quieto. E percebi ao longo dos anos que sempre sobra para o quieto. Você tem que dar a sua opinião e pronto. Se alguém discorda, você respeita, mas sempre fica com sua opinião.

L!: Com um pouco de marketing na carreira, onde você acha poderia ter chegado? Teria sido mais vezes o melhor do mundo?

R: Umas três ou quatro vezes.
Nota da redação: Rivaldo foi eleito o melhor jogador do mundo pela Fifa em 1999. E foi o terceiro em 2000.

L!: Por quê?

R: Porque confio na maneira como jogo. Se eu tivesse ido mais cedo para a Europa (ele foi para o La Coruña, em 1996, com 24 anos). Com pessoas ajudando, patrocínios aqui, ali, alguém falando para você ir na televisão na hora certa. 'Ah, você usa Mizuno, então muda para Nike ou
Adidas...' Não sei o que acontece por trás dessas coisas, por isso que eu poderia ter chegado lá. Mas prefiro do jeito que foi, porque sei que cheguei com meus próprios méritos.

L!: Sua melhor fase foi no Barcelona. Jogaria lá hoje?

R: Para ser sincero, jogaria com 38 anos nesse Barcelona de hoje. Neste time é fácil, porque quem corre é a bola, você não precisa correr. E fico um pouco triste por não ser a minha época, porque eu peguei um Barcelona e os caras diziam: 'Toca a bola para Rivaldo.' E olha que tinham bons jogadores como o Luís Henrique e Guardiola. E eles falavam: 'Rivaldo, quando apertar, a gente vai tocar para você decidir!' E no time de hoje o forte é o conjunto. Messi se destaca porque é o que faz mais lances individuais. Futebol é simples.

L!: Simples? Como assim?

R: No Brasil, os treinadores inventam muito, essa que é a verdade. Marcam treino de manhã e de tarde, concentração de vários dias... Nenhum jogador gosta de treinar em dois períodos, treina porque é obrigado. A Espanha é a atual campeã do mundo e não treina deste jeito, e os jogadores não se machucam. O Barcelona goleou o Real Madrid e os jogadores não concentraram. Por isso que eu acho que alguns treinadores brasileiros tiveram a carreira curta fora, porque quiseram levar esta cultura, em vez de se adequar aos costumes que têm na Europa.

L!: Qual sua opinião sobre os fracassos no Mundial da Seleção?

R: Copa do Mundo é complicado. Não existe aquele clima de 'já ganhou', como vai acontecer em 2014. É preciso ter o máximo de atenção durante os 90 minutos. Um exemplo disso foi esse jogo contra a Holanda. Em 2002 a gente respeitou todas as seleções e jogou concentrado o tempo todo, por isso que ganhamos os sete jogos. Eu me sinto um privilegiado por ter jogado duas Copas e ter chegado na final das duas, com oito gols feitos pelo Brasil.
Rivaldo foi o último camisa 10 da Seleção Brasileira a marcar um gol em Copa do Mundo (na vitória por 2 a 1 sobre a Inglaterra, nas quartas-de-final em 2002). Ronaldinho Gaúcho, em 2006, e Kaká, em 2010, usaram a 10 e passaram em branco.

L!: Há muito tempo que o brasileiro não vê o Rivaldo jogar. Como foi esse período no Uzbequistão?

R: Acho que o presidente do Bunyodkor me chamou para ampliar o futebol no país, porque quando eu cheguei não parecia futebol profissional:
campos com buracos, você tinha de pegar a roupa no chão... Eu conversava com a minha esposa pelo telefone e falava que minha vontade era a de ir embora, que eu não precisava daquilo. A estrutura lá só melhorou quando o presidente me deu carta branca para investir no clube. Compramos máquinas, arrumamos várias coisas e tenho certeza que lá está bem melhor hoje.

L!: Depois de voltar ao Brasil, foi uma surpresa você não ter ido ao Palmeiras. Por que não deu certo?

R: Não voltei porque não tive contato com ninguém, nem com a diretoria, nem com o Felipão.

L!: Ficou chateado com ele? Porque ninguém sabia da sua condição melhor que o Felipão, que era o seu treinador no Uzbequistão.

R: Não tem motivo para eu ficar chateado com ele. Você sabe que hoje em dia futebol é comércio. Tenho 38 anos e não sou um investimento para clube grande, ninguém vai fazer dinheiro comigo. Soube das coisas via imprensa, gosto muito do Palmeiras, tenho um carinho enorme pela torcida e seria legal na época se eu tivesse ido jogar pelo clube.

L!: Mas ainda tem esse sonho?

R: Fica difícil pela idade e é complicado jogar em um clube onde você é ídolo. Você não sabe o que vai acontecer, e se não for bem, não se pode
manchar uma história construída por causa deste retorno. Aí você vai mal, a torcida vaia, e eu não quero perder esse carinho que eu tenho da torcida do Palmeiras.

L!: O Palmeiras mudou muito desde sua saída. Você fica triste com os maus resultados da equipe?

R: O Palmeiras hoje tem bons jogadores, mas falta confiança, como naquela época. O Felipão é um grande treinador, mas o jogador precisa falar na imprensa, precisa se promover, fazer a sua vida profissional. Eu converso com alguns atletas e eles ficam chateados, eu sei. Jogador
se sente um pouco escravo com esta situação. Gosto do Felipão, mas discordo da atitude que ele teve.
Pouco depois que chegou ao Palmeiras, Felipão proibiu que os atletas dessem entrevistas dentro do gramado, no intervalo e após as partidas.

L!: Quando planeja se aposentar?

R: É complicado isso. Eu quando estava jogando no Barcelona eu pensava que jogaria mais um ou dois anos, e terminaria minha carreira com 32 ou 33 anos. Mas as coisas vão acontecendo, você joga e se sente bem, Deus está sempre me ajudando e eu não tive nenhuma lesão grave. Aí eu vou jogando, até porque jogar futebol é a coisa que eu mais gosto de fazer. Por isso, hoje eu nem penso em aposentadoria, quero agora jogar o Paulistão, para depois ver o que pode acontecer.

L!: Mas e depois? Existe a chance de você ser o presidente do Mogi Mirim e jogador de outro clube durante o Brasileirão, por exemplo?

R: Existe. Tudo depende do meu rendimento em campo e do interesse dos outros clubes, além daquela minha vontade de sair de Mogi. Estou feliz aqui, tranquilo, é bom estar próximo do clube, saber o que está acontecendo. Até pensei quando estava saindo do Uzbequistão em jogar em clube grande, mas pensei bem e quis ficar por aqui mesmo, ao lado dos atletas.

LANCE